Já ouviu falar na fábula do porco espinho? É uma metáfora potente para falarmos dessa relação tão poderosa e ao mesmo tempo tão desafiadora.
Na era glacial os porcos espinhos morriam por conta do frio. Até que um dia resolveram se aninhar em grupos menores, assim foram se aquecendo e se protegendo. Mas os espinhos feriam seus companheiros mais próximos, justamente os que mais ofereciam calor. Então meio que intuitivamente foram entendendo uma distância em que não morressem de frio pelo falta de calor, nem se espetassem com tanta proximidade.
É dentro de casa que nasce o amor, a proteção e respeito, mas também as expectativas, as insatisfações, os conflitos, os não ditos que muitas vezes se revelam nos sintomas de seus integrantes. Pessoas que se amam, mas são diferentes e convivem o tempo todo juntas. Mas em que momento uma relação familiar pode adoecer? Trazer mais sofrimento que alegria?
Para a psicóloga e psicanalista Juliana Corazza Scalabrin, uma das principais funções da família é a de favorecer o desenvolvimento de cada um de seus membros, de querer bem ao outro. Mas os pais também foram criados por pessoas que os ensinaram questões de gerações passadas, de seus avós, que por outro lado também receberam informações de uma outra época. “O que quero apontar aqui é a força que alguns aspectos inconscientes podem ter como, por exemplo, o modo daquela família se relacionar, ou então o que ela valoriza mais: estudo? trabalho? Como lida com o erro e quais as maiores ambições? Tudo isso passa de geração para geração”, afirma Juliana.
Repare numa coisa: depois que saem da casa dos pais, algumas pessoas buscam fazer a vida de um jeito diferente do que receberam. “Provavelmente tinham necessidades e se sentiam pouco acolhidas”, sugere a psicanalista. Outros não questionam muito e simplesmente repetem o modelo e muitas vezes repetem aquele sofrimento.
Família geralmente quer proteger seus indivíduos ou, às vezes, continuar com os mesmos valores, a mesma identidade. Desse modo, os pais podem se sentir ameaçados se os filhos pensarem de forma muito diferente. Podem se afastar pela falta de identificação com o filho. Há também aqueles que superprotegem ou que impedem que se expressem livremente, e por aí vai. Se você percebe que isso acontece na sua casa, seria interessante procurar um apoio psicológico. O importante é perceber que você pode ser diferente e precisa ser respeitado por isso.
A análise ajuda a enxergar sua família de forma menos fantasiosa e idealizada. Aceita lá como de fato é. “Tenho o objetivo de ajudar a pessoa a se reposicionar, entender e questionar esse papel que pode estar adoecido e cristalizado. No começo, muitos familiares estranham, mas se tiverem uma certa dose de tolerância à frustração vão perceber o quanto foi saudável iluminar pontos adoecidos”, explica Scalabrin.
Penso ainda que um caminho possível é se poder enxergar a família da forma mais real possível reconhecer suas qualidades e dificuldades tolerar melhor a ambivalência que sentimos entre amor e ódio, sem precisar carregar muito a tinta, ou sair em tom acusatório seria um caminho bem interessante para a resolução de conflitos e um grande passo à verdadeira liberdade.
Juliana Corazza
Psicóloga Crp 06/66569
18 anos de experiência clínica.
Formação em Psicanálise pelo Sedes Sapientiae
Especialista em Saúde Mental Unifesp
Experiência em atendimento on line desde 2016